Como Bad Bunny injeta milhões na economia de Porto Rico levando fãs do mundo todo à ilha
09/09/2025
(Foto: Reprodução) Bad Bunny em show no Coliseo de Puerto Rico, na capital San Juan
Lucas Paulino/TV Globo
Visitar Porto Rico atualmente é conhecer uma ilha apaixonada por Bad Bunny. Nas ruas da capital San Juan, grafites nas paredes homenageiam o boricua (como são chamados os porto-riquenhos) mais famoso dos últimos anos. Nas casas, nas lojas, nos carros e nos restaurantes, parece que todos estão na mesma playlist. No shopping, uma experiência imersiva leva os fãs a um passeio pela cultura que inspirou o álbum "Debí Tirar Más Fotos". No Museu de Arte, uma exposição trouxe os tênis assinados pelo artista.
Toda a exaltação não é por acaso. No auge do seu sucesso mundial, Bad Bunny quis estar na ilha em que nasceu. Entre julho e setembro, está fazendo 30 shows com a residência "No Me Quiero Ir de Aquí" no tradicional Coliseo de Puerto Rico, uma arena com capacidade para 18 mil pessoas. As nove primeiras datas foram reservadas para os residentes da ilha. As demais se esgotaram rapidamente entre fãs espalhados pelo mundo.
É um movimento que impulsionou a economia local em uma época em que a ilha costuma receber poucos turistas, já que é temporada de furacões. Alguns ingressos, como o que eu consegui comprar, foram vendidos oficialmente em pacotes de viagem que já incluíam hospedagem em hotéis da região. A agência Moody’s estimou um impacto direto de US$ 250 milhões e até elevou a previsão de crescimento do PIB de Porto Rico em 2025.
Como Bad Bunny usou seu novo disco para defender a história e a cultura de Porto Rico
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Como é o show?
O espetáculo feito por Bad Bunny em San Juan faz valer a viagem de quem pegou um avião para assistir.
A festa já começa do lado de fora do Coliseo, com ativações de diversas marcas, barracas de comida e vendedores ambulantes. O público é diverso. Muitos fãs vão vestidos de acordo com a temática porto-riquenha, com cores vibrantes, flores e chapéus de palha. Dá para ver jovens, mas também idosos dispostos a celebrar suas raízes.
O show começa pontualmente às 21h. Bad Bunny surge em um palco enorme que reproduz a natureza de Porto Rico, como a floresta tropical El Yunque, o flamboyant (árvore símbolo da ilha) e, claro, as bananeiras e cadeiras de plástico que estão na capa do álbum "Debí Tirar Más Fotos". São três horas de show em que ele canta praticamente todas as músicas do disco novo (no dia em que fui, a única exceção foi “Perfumito Nuevo”), mas também relembra muitos hits antigos.
A primeira parte do show é a mais introspectiva, com algumas canções mais lentas e versões acústicas de sucessos dos primeiros anos de carreira. "La Santa", gravada em 2020com Daddy Yankee, ganhou tambores de bomba, estilo musical boricua com raízes africanas.
Bad Bunny em show no Coliseo de Puerto Rico, na capital San Juan
Lucas Paulino/TV Globo
Na hora da música “Weltita”, o telão e as projeções que chegam até o teto levam um clima praiano para a arena. É também o momento da primeira participação especial, a banda porto-riquenha Chuwi, que gravou essa música com Bad Bunny.
A parte das músicas de perreo -- ou seja, as mais animadas e dançantes -- acontece do outro lado da arena. Bad Bunny aparece na casita, uma casinha rosa típica de Porto Rico. É o momento em que o artista mais parece se divertir, interagindo com o público e até dançando com um copo de drink na mão. O lugar também virou uma área vip em que celebridades e amigos do cantor curtem o show. Desde o início da residência já passaram por lá nomes como LeBron James, Kylian Mbappé, Penélope Cruz, Ricky Martin, Ana de Armas e DJ Khaled.
Também é na casita que Bad Bunny recebe um convidado diferente a cada show para comandar uma parte do espetáculo. Ele sai de cena por alguns minutos e dá espaço para outros cantores que ajudaram a construir a história do reggaeton festejarem também, como Nicky Jam e Ozuna.
A última música na casita é “Café con Ron”, que conta com a participação de Los Pleneros de La Cresta, um grupo de plena, outro ritmo afro-porto-riquenho, que tem como base as panderetas, instrumentos de percussão que lembram bastante os pandeiros do samba brasileiro.
Grafite de Bad Bunny nas ruas de San Juan, em Porto Rico
Lucas Paulino/TV Globo
Bad Bunny troca a roupa esportiva por um traje social e retorna ao palco principal para a parte final do show, dedicada à salsa. O sucesso antigo “Callaíta” ganhou uma nova versão nesse ritmo. Em algumas datas da residência, grandes artistas de salsa apareceram de surpresa nesse momento do show, como Gilberto Santa Rosa e Rubén Blades. O cantor dá destaque aos músicos da banda e contagia ainda mais o público nas três últimas músicas: "Baile Inolvidable", "Dtmf" e "La Mudanza".
Ao fim do show, fica evidente que assistimos a um espetáculo muito mais sobre Porto Rico do que sobre Bad Bunny. O objetivo é mostrar ao mundo a riqueza de uma ilha que tem uma história complexa e confusa até os dias de hoje. Com o status de território não incorporado dos Estados Unidos, Porto Rico não é independente, mas também não é um estado americano. Os porto-riquenhos são, por lei, cidadãos americanos. Mas na prática são tratados como estrangeiros e não podem, entre outras coisas, votar para presidente.
Para os brasileiros, conhecer a história de Porto Rico faz lembrar que também somos latinos. Afinal, a ilha tem muitas similaridades com o Brasil, como o jeito alegre de viver a vida e a receptividade com quem vem de fora. O prato típico arroz con habichuela nada mais é do que o nosso famoso arroz com feijão. A maneira de aproveitar a praia também é a mesma. As pessoas levam para a areia caixas térmicas com cerveja (o que nos EUA geralmente é proibido), cadeira e guarda-sol. A única diferença é que da caixa de som, nesse momento, só sai Bad Bunny.